3 de março de 2010

Hoje com o ontem ou sem o ontem?

As tecnologias me deixam inqueto. Não que eu não goste, por que gosto. Mas algumas dúvidas pairam na minha cabeça, como por exemplo, se as crianças aprenderem primeiro a digitar, vão precisar escrever? Esse exemplo é meio extremo, mas, e se aplicarmos esse conceito em áreas das artes? Quem aprende a desenhar no illustrator, saberá desenhar com lápis e papel? E isso implica na qualidade da obra?

Nessa, pensei em perguntar isso para o Hiro, um ótimo ilustrador, nascido em Mogi se não me engano, que, além de ele fazer os desenhos das bandejas do McDonalds, diariamente, ou quase, posta em seu blog as fast girls, que são desenhos de personagens femininos de filmes, cartoons, quadrinhos e seriados.

Fast Girl do Hiro

E foi numa fast girl que joguei a pergunta lá nos comentários e fui prontamente respondido. Segue pergunta e resposta:

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Olá, Hiro!

Primeiramente, preciso dizer que gosto muito das Fast Girls. Sempre traços bacanas e algum conceito e opinião por trás. Muito bom.

Outra, gostaria de uma opinião sua e de quem mais se sentir à vontade de responder:

Os softwares hoje simulam coisas que os ilustradores sempre fizeram: técnicas, papéis, tintas, telas, grafites, tipos de lápis… mas, creio eu, que isso ocorre pois esses mesmos ilustradores são os que hoje usam esses softwares. Ou seja, ele usa um simulador de aquarela pra não ter que ter, de fato, a aquarela. Conhece a aquarela, sabe os efeitos que se pode ter, e faz isso no simulador, sem precisar tê-la fisicamente.

Mas, hoje, muita gente aprende direto no software, sem passar, por exemplo, pela aquarela de verdade. Assim, daqui alguns anos, você acha esses softwares não mais simularão os efeitos da ilustração original, da ilustração orgânica e analógica, e só terão efeitos digitais?

É isso. Abraços!



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Oi Fábio.

É um consenso entre todos ilustradores que o computador e os programas são só uma parte do material de um desenhista profissional. Ele é mais cômodo e produtivo. Existem centenas de desenhistas que só se dedicam digitalmente à ilustração, e isso não é um erro.


Mas o fato é que quem só se dedica e esse tipo de ferramenta – e eu era um deles há alguns anos  – desconhece o potencial de trabalhar com materiais tradicionais e não sabe o que está perdendo. Se ele quiser só continuar com o computador, não é problema, isso não vai fazer dele um ilustrador pior. Mas se trabalhar com pincel e aquarela, com certeza vai fazer dele um ilustrador melhor. Os materiais tradicionais sempre estarão presentes na mesa ou na bolsa de bons ilustradores, que tem a consciência de que precisam experimentar e treinar nesse tipo de universo para serem bons também digitalmente.


Não acredito que a evolução dos programas digitais encaminhe para a produção de filtros e efeitos. Afinal, é preciso uma mão e um talento atrás do Tablet. Azar da molecada que fica fascinada com filtros e efeitos instantâneos, que criam pseudoartistas instantâneos também. Se depender deles, os programas já substituem a fluidez orgânica do traço pela dureza plástica do efeito.

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